Monday, February 26, 2007



SÃO MIGUEL SERÁS SEMPRE O MEU PÁTIO DAS CANTIGAS

Não se pode falar em economia açoriana sem referir aquela que diz respeito a São Miguel. O princípio de solidariedade que se aplica com extremo rigor no arquipélago dos Açores transformou a economia micaelense numa casa bancária do tipo dos antigos cambistas com orientação para “troca-dólares”. A solidariedade para com as restantes ilhas; o centralismo atávico português e as reivindicações dos madeirenses colocaram São Miguel num impasse em termos de crescimento económico. O engenheiro Manuel António Cansado, Presidente do Conselho de Administração da SATA/AIR Açores, na entrevista que concedeu ao Açoriano Oriental, hoje, dia 25 de Fevereiro, levantou um pouco o véu da situação. Sendo a ilha da Madeira mais pequena em superfície do que a ilha de São Miguel, como é possível estarmos atrás dela dezenas de anos sendo nós também portugueses de direito? Por que razão irá ter a Madeira uma política de céu aberto e nós açorianos não? São Miguel poderia muito bem optar por essa política, mas as restantes ilhas não. Isso faz com que por aqui não possamos saltar para um certo tipo de economia dita de mercado. Os micaelenses beneficiariam de preços mais em conta por via do volume do destino ao passo que os restantes açorianos não. O princípio de solidariedade seria posto em causa e isso era politicamente incorrecto. Os micaelenses sempre foram muito sensíveis às dores dos outros. Não são como os madeirenses que conseguiram desviar só para si do OGE cerca de cem milhões de contos há meia dúzias de anos deixando-nos com as tetas das nossas vaquinhas para nos entretermos enquanto nos atrasávamos ainda mais. Não são como os habitantes das outras ilhas - meio desertificadas - que exigem tudo mesmo que não lhes sirva para grande coisa. Não há muito tempo atrás, São Miguel fornecia as novidades da terra para todo o mercado ilhéu. Açúcar, chicória, álcool eram também produzidos em grande escala de elaboração. Cento e quarenta mil habitantes aguardam que uma ou outra ilha com pouco mais de cinco mil habitantes consiga viver muito além das suas possibilidades para poderem competir em pé de igualdade com outros mercados. João Jardim furou a sua Madeira com túneis e cobriu-a de estradas. Reconstruiu um aeroporto sete vezes mais eficaz que o de São Miguel. Recebeu uma Zona Franca que representa 21% da riqueza que entra para os cofres da Região Autónoma. Recheou a Madeira de todas as necessárias infra-estruturas para enfrentar os desafios do amanhã. São Miguel ficou a ver navios até que as Portas do Mar estejam prontas… Nem uma auto-estrada ou coisa parecida em condições temos que ligue a ilha de ponta a ponta. Somos uma ilha de curvas. E que curvas!... Por exemplo, um deputado da ilha das Flores (quatro mil habitantes) vale quatro dos de São Miguel (cento e quarenta mil habitantes), isto para não falar de outras discrepâncias assustadoras que fazem dos micaelenses uns verdadeiros basbaques. Coitados! Até para falarem precisam de intérpretes. Nas Comunidades de açorianos, distribuídas por esse Mundo fora, não precisam de intérpretes, pois não falam! Não existem! Somos muito brutos! Só nos chamam para trabalhos braçais. A primeira Universidade açoriana que se instalou em São Miguel teve como seu primeiro reitor um padre das ilhas de baixo. O segundo (não religioso) idem aspas aspas. O terceiro (laico) não tem costela açoriana, apesar de ter sido perfilhado pelos micaelenses. O actual, também laico, é - para não fugir à regra - das ilhas. São Miguel vive atafulhada de apartamentos e de grandes superfícies comerciais. A terra só produz erva para as vacas. São apetências! E, se enxertássemos os nossos cérebros com mioleira melhorada? Fico por aqui.
PS: E se o próximo Presidente do Governo Regional deixar de ser micaelense? Não era assim nas antigas colónias?
manuelmelobento

Sunday, February 25, 2007

Na semana passada os vândalos fizeram estragos em casas e carros em três ruas da cidade de Ponta Delgada. A PSP tomou conta da ocorrência e, verdade seja dita, este fim de semana foi calmo e para espanto de todos só houve uma ameaça de violência entre os grupos da noite, prontamente debelada pela autoridade. Porém, numa das rondas nocturnas da Polícia de Segurança Pública aconteceu o imprevisível: não tendo lugar para estacionar, o condutor de uma viatura fê-lo no cimo da Rua dos Manaias, impedindo o trânsito e dificultando a acção dos agentes. Se tivesse havido um incêndio, como poderiam os bombeiros socorrer quem a eles tivesse recorrido?

Wednesday, February 21, 2007





PS/A REGIÃO VERSUS PSD A/M/PC

Nem sempre concordo com o pensamento do dr. André Bradford. Porém, no frente-a-frente que manteve na RTP/VA (versão açoriana), hoje, dia 21 de Fevereiro, conseguiu colocar o eng. Jorge Macedo numa posição ingrata por defender o PSD/M (de Madeira) e o seu líder Alberto João, acerca da posição política que este tomou. E digo isto porque todos nós sabemos que Jardim com elevado grau de exigências, há tempos, reduziu substancialmente o nosso orçamento para poder expandir o aeroporto de Santa Catarina e outras obras. Foi à custa do nosso atrofiamento e com a aceitação tácita do Governo Regional, chefiado pelo doutor Mota Amaral, que nos atrasámos ainda mais. Ou comia a Madeira e não havia nada (muito pouco) para nós ou recebíamos o que era a nós devido e a Madeira teria de esperar por mais uns anos para realizar as suas obras estruturais. Numa determinada coordenada Jardim tem razão. Mas essa matéria diz respeito à Madeira e a Portugal (continental). Ser solidário não é ser anjinho! Acima dos Açores não podem estar outros interesses. E foi isso que quis dizer André Bradford. Foi um debate entre quem tinha em mente os interesses dos Açores e quem misturou interesses gerais (que nos prejudicam) com interesses de ordem partidária. Enquanto social-democrata dos Açores Jorge Macedo teria de evitar cair na ratoeira que lhe preparou o seu adversário. O seu discurso fica bem para os críticos independentes e sem orientação partidária, cujas leituras do real são relativas ao seu RI. Que o mesmo é dizer o que eu “vejo” daqui não é o mesmo que tu vês de ali.
manuelmelobento

Sunday, February 18, 2007




Oh SIM! SIM! SIM! OH NÃO! NÃO! NÃO!

O “SIM” perdeu nos Açores. As forças político-partidárias, que têm muito pouco para fazer na Região, encontraram o tema ideal para justificar o nada que fazem e o muito que ganham. A “Interrupção Voluntária da Gravidez” tornou-se de um momento para o outro o motivo de prestação de serviço público não só dos políticos profissionais como também de grupos de cidadãos empenhados em expor a sua posição face ao que julgavam ser seu dever de intervenção nos assuntos do Estado (nesse caso de Moral para uns e de Liberdade e Igualdade para outros e assim por diante à vontade do freguês). Porque a nossa Região é semi-autónoma, a nossa parcela pouco ou nada vale em termos de País global. Não contamos como um todo nem temos personalidade júridica. Isto é, o facto de termos votado ou não, apenas serviu para juntarmos a nossa opinião (tendência) às estatísticas. O Estado Novo criou um certo tipo de cidadão que não era nada mais do que uma fábrica de excrementos. Não podia pensar. Não tinha autorização para ler certa literatura (alguns livros do Eça até eram proibidos). Se não ajeitasse o matrimónio nas correias da improgressiva Igreja Católica, o pobre diabo do português era apontado a dedo e tinha a vida tramada. Parecia que tinham lepra aqueles que se casavam sem a bênção do deus judaico que o Ocidente importou para substituir os deuses associados greco-latinos. Em vilas, aldeias e algumas cidades médias os que não frequentassem os ofícios aos deuses (Javé, Cristo e sua Mãe que no século XX, o do Ano Mariano, foi promovida economicamente a divindade) eram chamados à pedra pelos padres e passavam a ser considerados suspeitos. Aqueles que se pronunciavam contra a situação política a nível de crítica teórica estavam sujeitos à prisão arbitrária e impedidos de se candidatarem a emprego público. Ninguém se manifestava a não ser a favor e em apoio ao salazarismo. Outro tipo de manifestação também era autorizada: a Igreja organizava grandes ajuntamentos tendo em conta rezas e cantorias que não levavam a nada. Com essa liberdade que apareceu por aí aos trambolhões, descaracterizada e cujas raízes nos são historicamente desconhecidas nasceu uma apatia pelas manifestações. Ameaços destas surgem aqui e ali sustentadas pelas corporações cujos chefes são engolidos umas vezes por aposentações e outras vezes pelo esquecimento natural do povo individualista que tem mais que fazer. De repente, parece que todos acordaram. E ei-los na rua a cantar: sim, sim, sim!, uns. Outros: não, não, não! Espanto? Nada disso! É que para se pôr o povo na rua a gritar seja o que for é preciso pagar-lhe. Assim, não nos espantemos por aparecer dinheiro a rodos para distribuir para que o circo apareça na rua. Nem todos os figurantes ganharam o pataco, mas alguns protagonistas conseguiram os seus 15 minutos de fama. Pessoalmente sou a favor de toda e qualquer manifestação democrática. Votei no Sim e nada tenho a opor aos participantes do Não a não ser os argumentos. O que me admira, e por isso não posso deixar de referir é o facto de coisas essenciais à nossa vida colectiva passarem ao largo dos nossos interesses. Ambiente, justiça social, insegurança, violência, abuso de poder, corrupção e outros itens não nos fazem mexer uma palha. É isto, não passamos de produtores de excrementos com alguns intervalos para, caso é, vegetarmos.
manuelmelobento

Tuesday, February 13, 2007


A Messe de Sargentos, situada na Rua dos Manaias, foi no último fim de semana e de noite atacada a pontapé. Estes selvagens metem medo às populações e quando se lhes diz que se vai chamar a polícia respondem que se estão nas tintas para ela. Três dias depois os responsáveis militares apresentaram queixa às autoridades policiais. No mesmo fim de semana, os energúmenos também provocaram desacatos nas ruas do Pedro Homem e Rua d´Água.

Sunday, February 04, 2007

A NOVA AUTONOMIA SEDICIOSA...


Numa das muitas viagens que fez sem tarelo por esse mundo fora, Jorge Sampaio enquanto Presidente da República afirmou que a Autonomia dos Açores já tinha dado o que tinha a dar. Tanto o Partido Socialista quanto o Partido Social Democrata sempre tiveram dificuldade em escolher candidato que servisse como modelo para encarnar o lugar de Chefe de Estado, excepção feita ao europeísta Mário Soares, claro está. Mário Soares enquanto líder partidário impediu uma viragem ideológica que colocaria Portugal na senda de um modelo tipo Estado satélite da União Soviética; enquanto Primeiro-Ministro levou o País a integrar-se na União Europeia e mais tarde como Chefe de Estado proporcionou uma convivência de abertura ao diálogo democrático que se caracteriza por um campo de luta ideológica nem sempre entendido por quem não bebeu em criança em águas da democracia ou a esta é avesso. Cavaco governava então com maioria parlamentar, e como é do estilo autocrático não é capaz (talvez aprenda com o tempo e com reciclagem) de entender que só da disputa salutar pode nascer o progresso. Retirava da actuação de Mário Soares uma só ilação: “Força de Bloqueio”. Paciência. Como líder social-democrata nunca esteve em São Bento a pugnar pelo programa do seu partido. Não tinha qualidades para tanto. O femeeiro de Santa Comba Dão também não era capaz de ouvir bocas dos adversários políticos por isso nunca discutiu, como parlamentar, fosse o que fosse apesar de ter sido eleito por um partido político de inspiração católica. Caía-lhe mal. Faltava-lhe o feitio e a vontade para o diálogo bilateral. Nunca os Açores tiveram nos presidentes da República Portuguesa, após o 25 de Abril, um defensor dos seus interesses. O quadro presidencial evitava a discussão de pontos considerados melindrosos. Pois, isso, poderia afectar a unidade do Estado. Uma tontaria como se veio a verificar mais tarde. Nos Açores arrancou-se uma autonomia vergonhosa que se institucionalizou. A princípio houve quem a chamasse castrada, depois passou de quieta a progressiva acabando, por ser nos dias de hoje, Nova Autonomia, epíteto propalado por Carlos César numa das suas mais recentes aparições públicas. Tendo em conta as medidas economicistas do Governo Central - que nos desviam do destino/sentido da nação como um todo - somadas a certas directrizes independentes dos sectores da Educação, da Economia, da representatividade (viagens ao estrangeiro do Governo Regional a partes “incertas”), dos Transportes, da Saúde e mais o que ainda está debaixo do tapete, é lícito pensar-se numa sedição pacata que transborda cheirosamente a separatismo. (Já estou a ver gestos e a ouvir gritos dos queridos socialistas (os poucos que me visitam). Como tenho ainda alguma memória, devo relembrar a quem de direito que quando o governo de Mota Amaral se impunha em defesa dos interesses dos Açores houve quem o apelidasse de separatista despundonorosamente. Outros tempos outras posturas. A mini-saia também irritou muito taliban quando surgiu. Depois habituámo-nos. É tudo uma questão de tabu e de tempo. Relativo, claro!
manuelmelobento

Thursday, February 01, 2007




ANTIGAMENTE, QUE RESPEITO!

Em 1961, um advogado inglês presenciou uma cena que não dá para acreditar. Dois estudantes resolveram dar vivas à liberdade, numa praça de Lisboa. Resultado da “proeza”: foram condenados pela Justiça a três anos de prisão. Era Primeiro-Ministro o saudoso Prof. Salazar. Regia a Igreja Católica Apostólica Romana o queridérrimo e amantíssimo Cardeal Cerejeira. O Presidente da República era, na altura, o sempre pontual general Craveiro Lopes que havia substituído o venerando falecido e automaticamente bem disposto Marechal Óscar Carmona. Os Tribunais da altura (nada que se compare com os de hoje) eram enfeitados por tudo que era digno e respeitoso. O povo era o mesmo, porém, mais velho, mais ignorante e mais estúpido. Sobretudo não podia votar, o que não acontece nos nossos dias. Teve origem nessa prisão a criação da Amnistia Internacional. O advogado chamava-se Peter Benenson. Portugal já não é o que foi. Ainda bem. Se por acaso aqueles dois infelizes estudantes tivessem gritado SIM à interrupção voluntária da gravidez teriam sido condenados a dez anos de Tarrafal como o foram dois presos políticos que ainda estando na prisão haviam escrito em papel higiénico uma mensagem também ela política a companheiros de cela. O advogado deles por acaso chamava-se Palma Carlos. O que é que tem a ver o SIM com estes pilares da moral e dos bons costumes? Nada, como é óbvio.
manuelmelobento