Sunday, February 18, 2007




Oh SIM! SIM! SIM! OH NÃO! NÃO! NÃO!

O “SIM” perdeu nos Açores. As forças político-partidárias, que têm muito pouco para fazer na Região, encontraram o tema ideal para justificar o nada que fazem e o muito que ganham. A “Interrupção Voluntária da Gravidez” tornou-se de um momento para o outro o motivo de prestação de serviço público não só dos políticos profissionais como também de grupos de cidadãos empenhados em expor a sua posição face ao que julgavam ser seu dever de intervenção nos assuntos do Estado (nesse caso de Moral para uns e de Liberdade e Igualdade para outros e assim por diante à vontade do freguês). Porque a nossa Região é semi-autónoma, a nossa parcela pouco ou nada vale em termos de País global. Não contamos como um todo nem temos personalidade júridica. Isto é, o facto de termos votado ou não, apenas serviu para juntarmos a nossa opinião (tendência) às estatísticas. O Estado Novo criou um certo tipo de cidadão que não era nada mais do que uma fábrica de excrementos. Não podia pensar. Não tinha autorização para ler certa literatura (alguns livros do Eça até eram proibidos). Se não ajeitasse o matrimónio nas correias da improgressiva Igreja Católica, o pobre diabo do português era apontado a dedo e tinha a vida tramada. Parecia que tinham lepra aqueles que se casavam sem a bênção do deus judaico que o Ocidente importou para substituir os deuses associados greco-latinos. Em vilas, aldeias e algumas cidades médias os que não frequentassem os ofícios aos deuses (Javé, Cristo e sua Mãe que no século XX, o do Ano Mariano, foi promovida economicamente a divindade) eram chamados à pedra pelos padres e passavam a ser considerados suspeitos. Aqueles que se pronunciavam contra a situação política a nível de crítica teórica estavam sujeitos à prisão arbitrária e impedidos de se candidatarem a emprego público. Ninguém se manifestava a não ser a favor e em apoio ao salazarismo. Outro tipo de manifestação também era autorizada: a Igreja organizava grandes ajuntamentos tendo em conta rezas e cantorias que não levavam a nada. Com essa liberdade que apareceu por aí aos trambolhões, descaracterizada e cujas raízes nos são historicamente desconhecidas nasceu uma apatia pelas manifestações. Ameaços destas surgem aqui e ali sustentadas pelas corporações cujos chefes são engolidos umas vezes por aposentações e outras vezes pelo esquecimento natural do povo individualista que tem mais que fazer. De repente, parece que todos acordaram. E ei-los na rua a cantar: sim, sim, sim!, uns. Outros: não, não, não! Espanto? Nada disso! É que para se pôr o povo na rua a gritar seja o que for é preciso pagar-lhe. Assim, não nos espantemos por aparecer dinheiro a rodos para distribuir para que o circo apareça na rua. Nem todos os figurantes ganharam o pataco, mas alguns protagonistas conseguiram os seus 15 minutos de fama. Pessoalmente sou a favor de toda e qualquer manifestação democrática. Votei no Sim e nada tenho a opor aos participantes do Não a não ser os argumentos. O que me admira, e por isso não posso deixar de referir é o facto de coisas essenciais à nossa vida colectiva passarem ao largo dos nossos interesses. Ambiente, justiça social, insegurança, violência, abuso de poder, corrupção e outros itens não nos fazem mexer uma palha. É isto, não passamos de produtores de excrementos com alguns intervalos para, caso é, vegetarmos.
manuelmelobento

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