Tuesday, January 27, 2009






PACTO DE RACIOCÍNIO
Bloco 4
(Continuação)

O futuro que decorre de uma figura com movimento torna o presente passivo.
Visões do futuro
O desenrolar do movimento acompanhado da actividade do homem (repensar, observar, etc.) torna o futuro como sujeito. Um sujeito suposto ser analisado nunca no agora mas sim em expectativa.
O futuro não sendo senão uma figura de retórica (?) que decorre de uma actividade mental e observável cativa o presente tornando-o prisioneiro no registo. Um registo que é memória. E esta tem residência própria. Nunca poderei ter memória de uma coisa que está a acontecer, mas sim do acontecido. “O que está a acontecer” o próprio verbo indica o futuro…
Presente e passado são facetas de um mesmo plano porque se transformam em dados adquiridos. Tanto assim é que podem ser referidos e catalogados. Por isso nunca o presente é presente.
O sentimento é activo: é movimento.
Se o presente fosse movimento teríamos de encará-lo como acção e não como memória. Ora, primeiro - digo eu - existe a acção e só depois a memória dela. E quando esta surge serve para recordar o registo que é aquilo que designamos presente.
Para entender o presente tenho forçosamente de apelar ao futuro. Seria absurdo considerar que para entender o presente recorresse ao presente.
“Recordo o presente momento” é já de si um absurdo tanto de raciocínio como de expressão. Recordo o presente como o passado porque o movimento (futuro) o permite é mais condizente com a maneira de ser das coisas.
Se eu pudesse deslocar-me à velocidade do futuro não haveria futuro. Porque não consigo viajar tão depressa, não o posso observar. Só como sentimento o posso pressentir.
Tentar quantificar o futuro talvez seja a melhor maneira de o entendermos.
Embora movimentando-me mais lentamente que o futuro nunca poderei parar em relação a ele, nem posso estar parado em relação aos registos (presente e passado).
Que começo tem o futuro se ele só sobrevive no seu próprio movimento?
No princípio do movimento?
Para considerar-se o princípio do movimento seria necessário concebê-lo como o fim do repouso. Fim do repouso… disparate. Seria um não movimento aquilo que antecederia o movimento. Quem está autorizado a dizer que na ausência do movimento existe o repouso?
O raciocínio humano criou o não movimento (repouso para não complicar) porque não encontra melhor saída para a questão.
O movimento tem regras – mais ou menos movimento – enquanto o repouso só a imaginação o conceptualiza.
O movimento tem etapas, velocidade e desvios. O repouso para ter significado teria de ser caracterizável. Só o fazemos apelando ao movimento, isto é, dizendo o contrário deste. Nem pode ser mais ou menos repouso, porque implicaria uma certa actividade. Não tem começo nem fim. Se tivesse começo, sê-lo-ia fruto de uma paragem do movimento. Considerar o fim do repouso seria concebê-lo esperando que o movimento arrancasse.
Se o repouso antecedesse o movimento teríamos de encontrar um momento de separação.
Só se existe como forma pensada. Tratar-se-ia de um registo coloquial… independente da nossa capacidade de observação.
O movimento é determinado pela mudança. E mudança é o futuro. Difícil é pensar o repouso, pois este não muda. Uma coisa que não muda poderá ter existência? Alguns inventaram-na e bem…
Facilmente detecto o movimento mesmo que este permita pensar o seu contrário. Será que vou encontrá-lo usando somente o pensamento? Que bom que seria…
Se o repouso não se movimenta, terá, então, de haver uma só “qualidade” de repouso. Algo sem partes, tipo ponto da geometria euclidiana. Safa!
(Continua).













Sunday, January 25, 2009



PACTO DE RACIOCÍNIO – Bloco 3

(Continuação)

O futuro É um sentido. Um dos muitos que possuímos. Enquanto o sentido da visão nos permite percepcionar o objecto (deixemos em paz os mecanismos cerebrais que apoiam este sentido), o sentido do futuro é como aquele e outros, um epifenómeno do movimento.
Os sentidos devem a vida ao movimento. Até mesmo quando visualizamos o passado, como registo, este só existe se um futuro o der vida. Por outras palavras, é no futuro que revejo o passado. E este nunca é o mesmo. Basta pensarmos que a sua revisão significa “passado” duas ou mais vezes. Passado revisto uma vez não é o mesmo que quando revisto duas vezes.
É que o movimento que acompanha o primeiro nunca será igual ao movimento que acompanha o segundo e por aí adiante.
Preparar o futuro é como preparar um cheiro, uma visão, um tacto, etc.
Existem objectos que gostamos de ver mais do que uma vez. Estou a vê-lo ou já o vi…
É que nunca poderemos esquecer que mesmo parados estamos a envelhecer, isto é, temos connosco um movimento no nosso tempo interior. As nossas modificações são o movimento. E tudo que está em nós está em movimento. A nossa visão mesmo parada num objecto (parado também) sofre o movimento dela mesma: envelhecimento do órgão, neste caso.
Como pode o passado (registo) influenciar o futuro?
O passado só o poderá fazer sob condição humana. Se o homem pode influenciar o futuro, que limites tem o futuro?
Quem quiser consultar o futuro tem de o fazer à luz da ciência do universo e do seu movimento.
O conhecimento da ciência é o conhecimento dos factos. Só os factos fazem ciência, fazem o universo. O homem ilude-se ao julgar pensar os factos. O que ele faz é repensá-los. O homem só poderia pensar os factos se eles no momento de se darem, os factos e o homem fossem ambos uma e a mesma coisa. Ora, na área do humano a ubiquidade não é possível, melhor, ainda não é possível.
Um facto antes de o ser (na visão do homem) só se concretiza “a posteriori”. O homem só prevê os factos detrás para a frente e nunca ao contrário. Pode intelectualmente fazê-lo se viajar à velocidade da luz e tendo em conta a possibilidade de existirem mais do que um universo.
Mesmo que o homem preveja com rigor os factos que hão-de vir, prevê-os no futuro. Mesmo que possa ver o futuro, só o movimento permitirá realizar tal façanha. Daí que o futuro ande mais devagar do que o movimento específico. Pode concluir-se daqui que o futuro e o movimento em referência apresentam andamentos distintos.
Esta é uma leitura humana “recheada” de lógica humana. Nem uma nem outra têm autoridade para, fora da linguagem humana, encontrar soluções fora dela.
A ciência – o universo – até hoje comunicou com o homem. Este, sim, tenta “falar-lhe” enquanto ela permanece distinta e alheia aos seus sentidos e previsões.
O homem deambula entre previsões e possíveis descobertas, mas trata-se apenas do homem julgado capaz de ser diferente das substâncias que o enformam e o constituem.
(continua) .






Saturday, January 17, 2009


(continuação)

PACTO DE RACIOCÍNIO – Bloco 2

A existência – tida como um movimento – no presente é um registo. Trata-se de um registo tomado pela consciência de algo. Toma lugar posteriormente ao dado (o fenómeno). Por essa razão não passa de um registo. É um registo passado. De que outro modo poderia ser? Uma paragem sobre o registo relega este para o não real ou aquilo que já foi, na medida em que o movimento é um dado universal, o que é confirmado pela observação. Nada está parado em relação a coisa nenhuma. Basta pensar que o tempo não pára para o observador humano. O movimento não pode ser captado no sentido de segurado. O movimento só pode ser entendido e, claro, registado como tal.
Para o ser humano só o futuro – aquilo que passará (está a passar, há-de passar) é aceitável como movimento. O registado não é movimento, é uma relação do movimento: uma cópia do que foi.
O homem pode especular sobre o registo (registado) tanto quanto o pode fazer com o futuro. E, neste caso, só pode tratar-se de previsões.
A especulação sobre um registo está sujeita ao ângulo de visão de cada um. Daí ser variável. Prever o futuro será, pois, mais "rigoroso". É que aqui se pode encontrar uma confirmação aquando da interpretação do registo ou a sua negação. Assim, se a especulação sobre o registo permite uma multidão de opções interpretativas, o futuro facilita a compreensão das coisas até que se lhe questione a validade. Entenda-se que a compreensão das coisas é uma construção a ser realizada ou que pode vir a ser realizada.
Até hoje não existe uma validade universal de qualquer registo se o compararmos com o que o rodeia. “Deus não joga aos dados”: como se enganou Einstein. Os dados até pararem são o futuro. Quando param os dados – em relação a qualquer coisa – são mais um registo aglutinador de confusões, para nós, humanos, claro está!
(continua)
mmb

Thursday, January 15, 2009


PACTO DE RACIOCÍNIO - I

Pretenda-se como começo de aceitação que os seres vivos, e neste caso em apreço o animal homem – deixemos os nossos companheiros planetários em paz até sabermos mais qualquer coisa sobre eles – é uma composição única proveniente de uma junção entre um óvulo e um espermatozóide. Isto é, até opinião em contrário e válida, um compósito compactado.
Deste compósito, e em determinadas condições, resulta do seu desdobramento um ser que após etapas de crescimento isolado e em conjunto com o seu grupo social se autonomiza em variados comportamentos.
Em crescimento o homem – o ser em questão – descobre por si as cores das coisas, o cheiro que delas emana, a temperatura, o sabor, a impressão, etc. É claro que se pode educar a impressão que se tem, assim como tudo o resto. Mas, nada nos leva a crer que a estrutura de base onde assentam esses conhecimentos interiores não sejam parte integrante do tal compósito. Não vale a pena levarmos adiante a leitura deste texto se não estivermos de acordo com estas noções básicas. É que sobre estas iremos desenvolver as teorias que se irão difundir.
Por exemplo, o sabor a sal é registado aquando da primeira vez que é detectado pelas glândulas salivares. O homem distingue o sabor a sal do sabor a leite logo nos primeiros dias de vida. Fá-lo rejeitando um e aceitando o outro. Daqui resulta um comportamento que advém da sua própria estrutura biológica ou através do conhecimento. Do conhecimento reflexivo não parece ser o caso. Rejeição automática é mais provável para classificar o comportamento. Uma coisa se nos mete pelos olhos adentro: a vida continua com a opção certa. Pela vida fora o homem para sobreviver toma sempre a opção certa. Salvaguardando-se os casos, claro está, quando estiverem em jogo outros valores, como por exemplo a atitude ética. Justifica-se a tendência: a vida continua como a opção certa para entendermos a sobrevivência nela mesma. A vida assenta em opções. Como pode o homem testar o sabor a sal se esse mesmo sabor não estiver inserido prioritariamente na sua base de dados? Aceitar o sal e o seu sabor e só a posteriori rejeitá-lo seguido de uma simples análise, implicaria um modelo de conhecimento que o caso referido não contempla.
O que leva o homem a escolher entre o sal e o leite? A experiência? Não parece corresponder ao caso em apreço pois trata-se de uma primeira vez. Conhecimento inato? Não podemos classificá-lo assim dadas as circunstâncias da falta de desenvolvimento cerebral do homem nos primeiros dias e a falta no domínio da expressividade para entender avisos ou para os enviar, tendo em conta o caso em discussão e não de outros definidos que se realizam no próprio feto e que a medicina tem vindo a divulgar, como sejam os que referem casos de afectos.
Se se disser a um homem com idade de compreensão mínima que o leite que ele quer beber está envenenado ele, certamente evitará bebê-lo. Se dissermos a um bebé o mesmo ele não só não entende como irá bebê-lo. Não dominando o pensamento o conhecimento inato não é uma opção correcta para que a vida continue. Logo o conhecimento inato sem ser “educado” não é conhecimento positivo. Dir-se-á que tanto o adulto como a criança podem morrer ao beberem o leite envenenado. Se o homem não souber da adulteração morre. Esta questão leva-nos de volta ao princípio. O conhecimento inato o que é? O bebé não responde, porém o adulto dirá que é o conhecimento que nasce com ele. Perguntar-se-á, então, quando é que se dá conta que ele existe? Quando o homem tem consciência de si! Neste caso o conhecimento inato tem um prazo e a partir deste tem existência. Aceite-se, mas questione-se. Parece que sem consciência de si o que é inato não tem expressão. É algo subsidiário. A ideia de deus, por exemplo, é inata para alguns, isto é, deus só tem “existência” com consciência. Será uma ideia abstracta consciente. Não havendo consciência de si, a ideia de deus não cresce. Deus, como ideia, neste período, prepara-se para surgir na esperança de melhores dias. Assim sendo, dá a impressão que deus estava fechado num determinado espaço do cérebro. Creio eu. Se a ideia de deus é exterior, como alguns defendem, então esperaria pela palavra-chave (a consciência de si) para entrar. Parece estar condenada a ideia de deus a uma dicotomia: dentro ou fora. É só escolher a melhor opção. Desviamo-nos do fio condutor e perdidos como estamos vamos adiante. Pode ser que escape qualquer coisa.
Tenho na minha frente um prato com sopa. Tempero-o com duas colheres de chá com sal. Ao meu lado o meu amigo Germano Olímpico também tempera o seu prato com sopa. Coloca nele, nada mais nada menos que cinco colheres de chá com sal. Desconhecendo os malefícios da ingestão em demasia de sal, o meu amigo julga que gosto das coisas insonsas. Pergunto-lhe se há uma medida universal para tempero de sopas. Ele responde-me que não. Vejamos. O meu amigo não toma uma opção correcta de vida tendo em conta a sua própria sobrevivência.
Temo que para além da consciência de si é necessário algo mais para corrigir comportamentos. Educação/Cultura são componentes interessantes para uma opção correcta de vida. Devemos pois ajuntar o conceito – agora compósito – para prosseguirmos estes esgares de raciocínio. Existe, de facto, uma teia enorme de requisitos que modelam o homem num sentido de ser e de estar. Acumular aquisições permite uma orientação pessoal e colectiva com fins que parecem determinados a corrigir atitudes.
Fenómenos apreendidos colectivamente são por vezes contraditórios a outros fenómenos colectivos com a mesma área geográfica.
(continua)
mmb