Monday, January 15, 2007



"Teatro Portucalense"

Continuação

Dizem alguns historiadores que não houve Feudalismo em Portugal. Geralmente quem o afirma acredita no Milagre das Rosas e nas Visões descabidas de Bom Senso da saudosa Irmã Lúcia quando em criança apanhava gafanhotos nos montes da Cova da Iria enquanto as ovelhas e cabras pastavam. A nossa história necessita urgentemente de um antropotécnico à altura das necessidades actuais e que dizem respeito a alcandorar as nossas mentes, quais fósseis de antanho, a um plano mais moderno. Impossível? Digo que sim. A comunicação fora da cidade de Lisboa fazia-se à custa dos almocreves. Por exemplo, uma carta escrita na capital do Reino levaria uns três meses, através desta “Posta Restante”, para chegar a uma aldeia do Minho. Isto é, se chegasse. Hoje, em dia, se não fossem as televisões e alguns jornais de província, o que saberíamos do interior era quase nada. Se não fossem as televisões ficaríamos sem saber que numa praia situada a meio caminho entre Lisboa e a cidade de Pinto da Costa morreram seis pescadores dentro de uma embarcação a apenas 50 metros da linha de água. O que quero dizer com isto, é que num país sem vias de comunicação e sem um pingo de humanismo como prática de vida, embora sejam (os indígenas) ensinados logo ao nascer como devem amar o semelhente, nada é como é. Se Augusto Comte fosse ainda vivo diria que ainda não passamos do Estado Teológico. Quase que acertava – se estivesse vivo, claro. É evidente que um coro de imbecis se levantaria contra esta diatribe dizendo que temos estradas a dar com pau. Claro! Isto eu sei porque é lá que morrem milhares de portugueses todos os anos. Não são vias de comunicação são vias de morte e desespero. Cá estou eu sem saber dar continuidade àquilo que escrevi ontem. O costume. Como não tenho pachorra para ler o que atrás escrevi aqui vai mais uma tentativa de fazer “teatro”: Na segunda década do século XX, o povo de Lisboa assaltou diversas vezes mercearias para matar a fome que grassava. Meia dúzia de anos depois de os burgueses (da altura, não confundir) terem aniquilado a Monarquia a fome generalizada passou a hábito. A gordura que hoje se combate e dá rios de dinheiro a ganhar às multinacionais e seus adjuvantes era na altura um sintoma de “sinais exteriores de riqueza”. O bom e esfomeado povo dizia: “gordura é formosura”. Pudera!, não? Na província, a morte pela fome não era expressa em parte nenhuma. Não consta que alguém tivesse na certidão de óbito: “morto à fome mas com todos os sacramentos”. Morria e pronto. A não ser, quando a morte tomava outra feição. Mas, isso já na nossa era quando os soldados da Guarda Nacional Republicana atiravam a matar nos Servos da Gleba, como foi o triste caso de Catarina Eufémia, que se revoltara contra a fome e a injustiça dos senhores proprietários de terra que até tinham nos seus solares uma capela e um abade do tipo que Dom Luís (da Casa Mourisca) usava para lhe acertar o deve e haver dos bens terrenos. Está difícil ligar este texto ao de ontem… Só se lança impostos quando o povo tem com que pagar. E isto depois de ter matado a fome. De outro modo é perigoso, não para ele mas para os que querem sacar-lhe o pouco que poupara. As manifestações de rua que têm tido lugar na capital do nosso ainda enclave espanhol ainda não mostram potencialidades que permitam o assalto aos bens do alheio, apesar dos chefes populares bem tentarem apear do poder a cambada de oportunistas que tomou o poder através do voto. O voto em democracia é a maneira mais evidente de confirmar o poder dos ricos. E isto com os votos do povo (imbecil de todo como se prova sempre que há eleições). O povo não é capaz de votar no povo. Vamos lá a compreender esta faceta humana… O povo é assim mesmo quando come. O pior é quando não há nada para comer. Este problema não se coloca: dizem os mais sábios de entre os burgueses. Pois é, também se dizia há pouco tempo que as “Conquistas de Abril” eram irreversíveis. Que “o fascismo nunca mais!” Eu também me enganei. Não é preciso relatar o que o governo Sócrates está a fazer aos direitos dos trabalhadores para confirmar estas bocas. Chamam-me reaccionário quando assim penso. Quem? Quem está instalado nos bebedouros do erário público. Ah, “esquerda” maldita e cega! Lembrem-se de Afonso Costa o paladino dos direitos dos burgueses que odiava os trabalhadores que aderiam à greve. O que é que ele defendia, afinal? A paz burguesa! E como acabou? Bem! Tivemos a ditadura do femeeiro de Santa Comba Dão que durou até que um punhado de bons rapazes, também eles à cata de melhores benefícios, se dispusesse a derrubá-la.
Continua.

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