Thursday, October 05, 2006


SENSAÇÕES E APARÊNCIAS

Discurso e pensamento político estão cada vez mais num só. Claro que discurso sem pensamento não é coisa que se “pense”. O discurso político está entregue aos políticos e estes, o que não é de admirar, pensam. Um sistema democrático obriga todos a pensarem. Em Portugal e Regiões esperava-se que os indivíduos formados pela linha ideológica inserta na Lei de Bases do Sistema Educativo recolhessem os seus frutos. Para espanto dos mais interessados isso não aconteceu. As escolas, digo, os professores não estiveram à altura de “renovarem” os seus comportamentos. Mantiveram como meta a atingir o cumprimento dos programas e pronto, ficaram-se por aí. Não leram as “instruções” da lei. Não era nada com eles. Por outro lado, ninguém os obrigou a aplicar o que estava expresso no articulado. Daí que sem terem objectivado uma rementalidade nos seus pacientes, estes saíam, em relação à questão, como entraram nas escolas. Vazios, ocos, sem consciência social, política, etc. Ei-los prontos para a vida como o virgem imberbe numa noite de núpcias. A grande escola para formar consciências foram os partidos políticos e as suas supostas ideologias. As grandes famílias políticas arrebanhavam as crianças/adolescentes com promessas futuras de êxitos no emprego. Este não passava de lugares públicos, tais como cadeiras nas autarquias até quadros superiores no Estado, uma vez ganhas as batalhas eleitorais. Uma espécie de escola de formação de jogadores: as juventudes dos partidos políticos, melhor dizendo. Fora deste cenário era tudo transformado num deserto de entendimento, pensamento e discurso. A intervenção política dos cidadãos ficava no caixote de lixo da história política. O tempo da ditadura era mais ou menos assim. Diferia só na proibição do acto. Somos livres de pensar politicamente, mas qual quê? O que é que isso significa se deixámos aos políticos gerir aquilo que se conquistou com a queda da prepotência? Significa que para além dos profissionais da política só existem os jornalistas que substituíram o pensar e o actuar do povo. Um ou outro pensador pulula aqui e ali e o resto é o vazio. A política está hoje entregue a estes dois grandes grupos. Mas não fiquemos por aqui. Há no ar forças reguladoras que intervêm sobre os segundos enquanto perseguem os primeiros vigiando-os. Quando é preciso estas forças quase ocultas servem-se da comunicação social (livre!!!) para reduzirem a actuação dos políticos e os controlarem. Penso que é tudo um jogo de sensações e de aparências, porque eu não consigo provar nada. E é preciso?
manuelmelobento

1 Comments:

At 11:25 AM, Blogger jacobino said...

Exmo Sr,
tenho a certeza de que esta "atrofia"democrática não se deverá aos professores, mas antes ao regime, que tem todo o interesse em que assim seja.

 

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