Tuesday, October 31, 2006


VICTOR DE LIMA MEIRELLES

UM POETA DE SEMPRE

Ponta Delgada nas décadas de cinquenta e sessenta era uma cidade sem vida. As almas sensíveis pernoitavam neste imenso lodaçal de humidade e de cinzento, sofrendo. Era a altura em que os “cérebros intelectuais” da nossa paróquia andavam cantando e palmeando as cantiguinhas dos Cursos de Cristandade, fruto de reflexão de obediência que a sociedade politicamente escravizada unicamente permitia. Era o exclusivo de quem suponha estar a dirigir o nosso destino. Esta era uma terra de reis da laranja. Nada davam. Tudo tiravam. Comecei a ler o Victor nessa altura. A ânsia daqui fugir deste imenso e capador pasmo não tinha correspondência física. Sofria-se a cota que nos era atribuída. Alegrarmo-nos era como se tivéssemos de colocar uma máscara que não nos pertencia. A poesia do Meirelles em vez de me alegrar doía-me. Era como se estivesse a ler bem fundo o que julgava ter sem poder possuir. Só a fuga era terapia. Meirelles viajou. Fez poesia. Voltou com ela ainda mais livre mais sonhadora. Terrivelmente aleatória mas terapeûtica. Teria forçosamente de “acabar” fazendo pintura. Por vezes, voa nela como se o pincel fosse uma pena. Alguma dela irrita-me solenemente porque ele, na sua “intolerável” criatividade, só se respeita a si. Tão depressa brinca com os sentimentos dos outros como os põe deliberadamente a pensar que a vida pode ser “fotografada” para sempre. Uma vida cheia de criatividade que um dia tornou os muitos cinzentos que nos rodeiam talvez apetecíveis. Talvez...
Meirelles vai expor pinturas e lançar "AMARGO LÍRICO", no dia 3 de Novembro. Irei “vê-lo”! Mas só quando o cinzento do passado rechear a sala de exposição. Lá estarei sozinho. Como de costume, mas sempre à espera dos “milagres” de cada um.
manuelmelobento
 Posted by Picasa

0 Comments:

Post a Comment

<< Home