“NÃO HÁ FUMO SEM FOGO
Nunca fumei. O meu pai, que também não fumava, orgulhava-se disso, porque ele pensava que era o facto de nunca me ter proibido de fumar que me levara a não pensar numa norma a transgredir. Não sei se foi por isso. Em dada altura, por influência do exemplo do meu professor Mário Dionísio, ainda tentei o cachimbo. Percebi (e mais tarde confirmei com David Mourão-Ferreira) que era uma trabalheira imensa, para a qual não tinha pachorra, e que não me parecia compensar. Ao cabo de algumas semanas, desisti. E nunca mais peguei em cachimbo ou cigarros.”
Público, 31 de Agosto de 2006
Mortos Joaquim Paço d´Arcos e Vera Lagoa, surge-nos no panorama intelectual português Eduardo Prado Coelho. Ainda bem, pois a lacuna de que sofríamos foi superada por este Professor Universitário do pós 25 de Abril. Convém, também, afirmar que seria académico mesmo que a revolução florista não tivesse recebido da populaça o apoio incondicional. “Nunca fumei.” De facto, olhando para o filho de Jacinto Prado Coelho, ser-nos-ia difícil vislumbrá-lo de cigarro no canto da boca a beber um copo e a namoriscar. Porém, o mundo da abstracção é muito pródigo na apodioxe. Quatro linhas após tal afirmação antitabágica ei-lo a confessar que tentou o cachimbo, o que representava uma trabalheira imensa. Para ter este raciocínio foi necessário a ajuda do beato encapotado Mourão-Ferreira (uma espécie de intelectual-pagão-poeta ao estilo português das confusões do intelecto mixordeiro). Não tinha pachorra para, naturalmente, carregar o tabaco no cachimbo. E, segundo o Professor Universitário, não compensava. Ao cabo de algumas semanas desistiu. Não se sabe se era por não conseguir colocar o tabaco na boca do cachimbo. Calculo que para EPC seria um exercício difícil. Porém, não podemos confirmá-lo. Diz ele que nunca mais pegou em cachimbos ou cigarros. Supõe-se pelas palavras escritas que deixou de fumar cachimbo ou cigarros. De outro modo, que significaria deixar de pegar em cigarros e cachimbos? Com Joaquim Paço d´Arcos ausente por morte, vai ser difícil deslindar se se trata de uma dimensão metafísica ou se pegar é mesmo pegar/segurar. Nunca mais segurou o cigarro... Segurava o cigarro sem fumar? Também serve. Dá aquele ar de... Eduardo Prado Coelho Professor Universitário. Era este mesmo que ao falar nos confundia quando se expressava. Nunca quer dizer nunca mais. E nunca? Quer dizer nunca mais. Nunca pensei! Nunca mais pensei! Nunca li Eduardo Prado Coelho! Nunca mais leio Eduardo Prado Coelho! Também serve!
manuelmelobento
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