Wednesday, June 28, 2006

DACOSTA & POMAR

NA BIBLIOTECA PÚBLICA DE PONTA DELGADA

Estranhei a mistura de Dacosta com Pomar. O cartaz do espectáculo anunciava qualquer coisa como o divino nos dois. Dacosta está para Pomar como a “Ponte Salazar” está para a “Ponte 25 de Abril”. Dacosta é uma figura ímpar no panorama da pintura política açoriana. É o único pintor da nossa terra que o bife Herbert Read cita no seu Dictionary of Arts and Artists. (1969/84). Dacosta começa por ser inicialmente um surrealista. Parou uns anos e retomou a pintura na década de setenta. Uma exposição muito completa teve lugar no Museu Carlos Machado, se não estou em erro, na década de noventa do século passado. A sua mulher Miriam esteve à frente do evento supervisionado por António Manuel Oliveira, então seu director. Dacosta, no dizer de Read, procurou interpretar a Natureza dando-lhe uma perspectiva mítica. É a interpretação do bife que desconhecia o total da obra do artista terceirense. Que fique com ela e com os tansos que o lêem como eu, por exemplo. Dacosta pintou o que lhe veio à cabeça e se foi surrealista em quarenta, deve ter percebido que esta moda também se esgotou para dar lugar a outros “processos” interpretativos. Esteve, segundo consta vinte e tal anos sem pintar. Remeteu-se a um lugar de secretário particular de uma celebridade (já esqueci o nome). Quando veio para os Açores, o que fez para trás, foi-se. Descontraído rabiscou alguns desenhos sem compromissos de qualquer espécie. Penso que só lhe faltou pintar sobre pedra. Na retoma perdeu-se o génio. Porém, como trazia alguma publicidade no nome foi levado a sério por quem de arte se rege por concertos de ideologia institiva... Dacosta, apesar de muitos saltos no escuro, não deixa de ser um homem honesto. Daí a estima que tenho por ele. Misturá-lo com Pomar só se justifica nunca perspectiva comercial. Pomar é um aproveitador de esquerda e ainda está vivo. Perfilhado por Soares no seu consulado presidencial (pintou-o numa mistura de ridículo democrático com um traço de rasgo à José Vilhena) aproveitou-se da publicidade que esta República dá aos seus (esquerda de barrela). Era preferível retirar Pomar e substituí-lo por Tomaz Vieira. Talvez a aposta fosse ganha, mas ao contrário. Dacosta tratou tudo à laia de mito e sonho, onde a dor insiste na antinomia do real .Mas isso foi chão que deu uvas. Vieira é mais do sacro império do pincel. Não estou contra a apresentação da obra de Pomar. Se, com boa vontade, aceitarmos esta exposição da BP de Ponta Delgada como um acto de cultura à micaelense até que se percebe... O novo-riquismo é horrível quando é quase consciente.
manuelmelobento


PINTURA DE DACOSTA ILUSTRA ESTE TEXTO Posted by Picasa

0 Comments:

Post a Comment

<< Home