Wednesday, June 20, 2007



OS LIMITES DO SOCIAL

Aquando do realojamento em casas novas de famílias desprotegidas em Rabo de Peixe, na semana passada, o secretário da Habitação e Equipamentos afirmou que o Governo dos Açores continuava apostado em promover a auto-estima na vila de Rabo de Peixe, criando novas condições habitacionais, marcadas por critérios de sustentabilidade social e ambiental. Todos têm direito a casa. Até a coitadinha da classe média - que anda com uma mão atrás da outra para poder pagar as prestações da casita, do carro, da roupinha adquirida a crédito no comércio tradicional (o outro “comércio” também está aberto ao crédito mas por via dos facilitadores e milagrosos cartões de crédito) – também tem direito. Visto de longe, até que está tudo bem. O “pobre-pobre” arruma-se na habitação social das políticas de caça ao voto partidário; o outro “pobre”, o pequeno-burguês, enfia-se nos apartamentos do tipo T1-bancário, T2-bancário, T3-bancário, etc. Se nos aproximar-mos destes dois típicos escalões sociais que preenchem, nos dias de hoje, a quase totalidade da sociedade portuguesa, encontraremos o verdadeiro desastre económico em que chafurdam. O pequeno-burguês deve tudo e a longo prazo. As dívidas que contraiu em vida irão ser transmitidas aos filhos e provavelmente aos netos, dado que o prazo se dilatou, presentemente, para os quarenta anos. Amanhã serão cinquenta anos, sessenta? Os pais da globalização e da destruição do planeta é que sabem. O pequeno-burguês que há anos atrás vivia sobre rodas, hoje, desliza sobre créditos que enrolam as rodas. O “pobre-pobre” está, talvez – digo eu – numa, um todo nada, “melhor”. Vejamos o seguinte exemplo: mal recebera a chave da casa nova das mãos do secretário regional, Doutor José Contente, uma das beneficiárias “deixou-se” entrevistar pela jornalista da RTP/Açores. Respondeu assim a beneficiante não atendendo ao espírito das perguntas: “O meu marido não trabalha, não quer trabalhar. É um preguiçoso! Os meus dois filhos de vinte e de vinte e um anos também não querem trabalhar. Para lhes dar de comer tenho de ir para a cidade (Ponta Delgada ou Ribeira Grande não posso confirmar) pedir esmola. E, agora, com a luz e a água da casa nova para pagar vejo-me obrigada a ir pedir também para isso.” Penso que a jornalista já não teve lata para questionar sobre a forma de como pagaria a renda mensal da mesma habitação que o responsável político tão pedagogicamente tentou inculcar… Este país não existe. Eu e milhões de portugueses não fugimos aos impostos, mas porra, perdão, assim não. Até dá vontade de ser “pobre”. E sabem porquê? É que, além deste tipo de “pobre” mamar dado e muito, ai daquele que o discrimine. A lei cai-lhe em cima que nem uma boca de Groucho Marx: “estes são os meus princípios, mas se não gostardes deles, arranjo outros…”
manuelmelobento
PS: pintura de José Malhoa

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