Tuesday, April 06, 2010



Quase diário.
Encontrei este texto. Já não me lembrava de o ter escrito. Estávamos em Outubro de 2007. O ano em que deixei tudo para trás. Menos a bebida. Este texto é o texto de um alcoólico... mais ou menos...
Dia 26
Vai sem qualquer correcção.
Esta cobertura de pinturas à minha volta sossega-me. E o mais esquisito é que eu é que as fiz. O que elas me dizem sou eu que tenho que descobrir. E vou descobrindo coisas nelas que "não fiz". Como pode ser? Se algumas destruí foi porque me acusavam de qualquer coisa ou porque me pareciam verdadeiras patetices. Irrita-me, por vezes, encontar-me como figurante das suas acções. Salto para a composição como um proprietário absoluto quando abre os portões das suas quintas. Não tenho pachorra para medições métricas nem perspectivas equilibradas. Elas para mim não existem na reprodução métrica da arte enquanto cérebro. O meu é rebelde (por deficiência) daí que é nele que procuro as respostas depois de misturar o que me rodeia, ou suponho rodear. Para mim é mais fácil utilizar as cores do que as palavras. Estas têm-me traído a maior parte das vezes. Até as acho hipócritas. As cores já não são assim. Posso esconder-medo por detrás delas como mistérios, mas mais cedo ou mais tarde fico descoberto. As pinturas têm mais vida do que as paisagens que procuro representar. Porque sou eu quem lhes dá vida e não outrem. Por isso gosto mais delas. E não é por uma questão de egoísmo. Egoísmo é querer as paisagens do outro e ficar com elas. Eu não as quero para nada. Fazem-me sofrer. Por isso deixo-as ficar onde estão ou parecem estar. Mas porque me estou a contradizer, pois disse que as palavras têm saltos de compreensão. Mudam conforme os tempos e é nestes que temos que encontrar o seu suporte. Que descanso é este que só a minha pintura me dá? Por que é que os artistas ficam neles e não me fazem voar? Como me custa interpretar a arte dos outros? Por que apenas me fico pela admiração? Será porque não domino os seus códigos ou porque ao querer interpretá-los estarei a cometer apropriação ilícita? Terei eu construído a solidão à custa da solidão das minhas pinturas? Será que estou a sofrer a doença de um bom criador que passa a amar a própria criação? Isto é demasiado narcisista! Mas se me agrada, para quê questionar? Quantas vezes pensando estar a deformar o real estou a vê-lo perfeito na minha frente? E o rigor? não fará ele parte da minha disfunção com o que me rodeia? Quando desenho uma espada, ela mais parece um acto de unir e não separar. Mas quantas espadas pintei? Acho que nenhumas, à primeira vista. Umas estarão escondidas as outras tomam formas de espátulas. Cheguei à idade da impotência (com intervalos,claro). Não foi o corpo que me avisou. Foram as pinturas. Saíram-me três bastante contundentes. Imaginei-me uma múmia sem pirâmides, nem camelos e nem desertos. Lá estão elas à minha frente a desafiarem-me porque julgam que essa provocação me vai ferir. Rio-me delas! Elas não sabem que não me fazem sofrer porque isso de saudade é coisa para tansos. E eu já não tenho idade de saudade. Estarei a construir uma pintura de solidão? Estarei doente? Não de dores físicas porque estas colocam-me problemas de outra dimensão. Fiz com que as pessoas (os meus) se afugentassem de mim? O que tem a minha pintura com isso? Eu que nem sei pintar! Qual será o passo seguinte da solidão? A solidão não faz guerras. Como é difícil fazer falar a solidão se ela nem é modelo de amizade. Tenho sede! E o que tem a solidão com isso?
O meu ser vagueia na onda do exílio onde a solidão soluça.
Nota: realmente este texto é de uma pobreza atroz e mal escrito. Porém, é verdadeiro. A última frase, então, é de tal ordem que não percebo por que a escrevi. Não sei o que significa.
Varett,
dia 6 de Abril do ano de 2010

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